por paulo eneas
Os petistas saíram derrotados nas eleições municipais deste ano, não conquistando a prefeitura de nenhuma capital no país. No entanto, é um erro político celebrar esta derrota do petismo por interpretá-la sendo como derrota da esquerda, pois esta leitura equivale a reduzir a esquerda brasileira ao próprio petismo, o que está longe de ser verdade.

A esquerda política brasileira transcende as fileiras do petismo e está presente em praticamente todas as agremiações partidárias, incluindo os tucanos e especialmente os partidos que formam o centrão. Isso pode ser constatado verificando-se que pautas da esquerda são rechaçadas por estes partidos. A rigor, nenhuma.

Da mesma forma, pode-se questionar que pautas da agenda conservadora que elegeu o Presidente Bolsonaro são plenamente endossadas pelos partidos que formam o centrão. A resposta também é nenhuma, a exceção de algumas pautas defendidas individualmente por alguns dos parlamentares deste bloco.

Não é por outra razão, além do boicote explícito da parte de Rodrigo Maia e de  David Alcolumbre, que a pauta conservadora do governo não avança no Congresso Nacional, a despeito da aliança formada pelo próprio governo justamente com o centrão, supostamente para esta finalidade.

Nesse sentido, cumpre questionar não a busca por maioria parlamentar, que precisa e deve ser feita, mas em que bases a formação da aliança com o centrão foi e está sendo negociada. Pois até o momento esta aliança não foi submetida à prova alguma, no que diz respeito à aprovação das pautas conservadoras.

Associar o ocaso eleitoral do petismo a uma derrota da esquerda constitui-se em um erro, cuja origem reside no antipetismo, que transformou-se num meio de a esquerda limpar-se com a sujeira que ela mesma produziu (ou seja, a corrupção generalizada da era petista) e desta forma poder migrar a agenda esquerdista para outras legendas, sem a “mácula” da corrupção petista.

Em outras palavras, o antipetismo tem levado parte da direita não apenas a avaliações políticas erradas, como esta que afirma que “a esquerda foi derrotada nessas eleições”, como tem possibilitado à esquerda reinventar-se e remodelar-se em outras siglas partidárias, e continuar conquistando posições e força no cenário político nacional enquanto a direita se distrai e se entretém vendo o petismo naufragar.