por paulo eneas
O argumento comumente usado por um segmento bolsonarista que recusa-se a enxergar os erros que o governo tem cometido é o de que não é possível em apenas dois anos desfazer os trinta anos ou mais de políticas socialistas que foram implantadas no Brasil. De fato, não é possível.
Mas em dois anos é possível iniciar-se esta reversão, e não é isso que temos observado em muitas áreas do governo. Com exceção da política externa, meio ambiente e infraestrutura, o que temos observado no Governo Bolsonaro é a consolidação ou mesmo o aprofundamento, ainda que à revelia da vontade do presidente, da herança esquerdista das últimas décadas.
Na educação, tivemos o retrocesso após a saída de Abraham Weintraub. Não houve iniciativa em propor a reforma do judiciário, a mais importante das reformas, que deveria ter sido apresentada desde o início do governo. Nenhuma iniciativa também foi tomada no sentido de, por meio da lei, quebrar a hegemonia dos grande grupos monopolistas de comunicações.
Além disto, determinadas agendas esquerdistas avançaram sob o governo, como a agenda identitária e de gênero que segue avançando a pleno vapor sob os auspícios da ministra Damares Alves da pasta dos Direitos Humanos.
E esta agenda identitária avança tão bem, do ponta de vista da esquerda, sob a batuta de Damares, que um relatório do próprio Ministério dos Direitos Humanos serviu de subsídio técnico para decisão recente de magistrado do STF que implementou política de identidade de gênero no sistema prisional.
Além disso, desde meados do ano passado passou-se a ter o cerceamento da liberdade de expressão e a perseguição aos conservadores, o que resultou na desmobilização de parte da própria base de apoio ao presidente. Tratou-se de um retrocesso que foi decorrência direta do erro de não fazer a reforma do judiciário.
Portanto, se é verdade que não de pode desfazer completamente em dois anos o que foi feito em trinta, também é verdade que escolhas estratégicas erradas podem resultar, em dois anos, na consolidação e no aprofundamento daquilo que se pretendia combater.