por paulo eneas
Em uma declaração intempestiva e confusa, o Presidente Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (22/07) que ele é do Centrão, ao referir-se ao grupo de partidos políticos que desempenha papel decisivo nas votações no Congresso Nacional e que agora faz parte oficialmente do governo federal.
Um dos principais líderes deste bloco partidário, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) passará a chefiar a Casa Civil da Presidência da República, o ministério mais importante do governo, que costuma também responder pela articulação política do governo com os congressistas.
O presidente afirmou que o nome “centrão” seria pejorativo e lembrou que ele, o presidente, já foi filiado a partidos que integram este bloco, para então arrematar dizendo “eu sou do centrão”. A afirmação gerou confusão e até mesmo espanto e perplexidade entre os apoiadores do governo nas redes sociais.
Quando o presidente afirma que ele é do Centrão, ele está obviamente contrariando sua própria trajetória política. O Centrão constitui-se no núcleo duro do establishment político brasileiro e sempre foi maleável às pautas ideológicas da esquerda, enquanto o então deputado Jair Bolsonaro sempre combateu esta agenda.
Vários políticos do Centrão foram ou são acusados ou investigados por suspeita de corrupção. Sobre o então deputado Jair Bolsonaro, nunca pesou este tipo de acusação. O Centrão fez parte da base de apoio dos governos petistas, inclusive via Mensalão. O então deputado Bolsonaro sempre combateu os petistas e foi único parlamentar de seu antigo partido que não esteve envolvido no Mensalão.
Nas últimas eleições presidenciais, Jair Bolsonaro disputou e venceu o pleito contra os petistas, enquanto políticos do Centrão, incluindo o agora futuro chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira (PP-PI), apoiou a candidatura-poste do PT, e em vídeo divulgado nas redes aparece elogiando Lula e chamando Bolsonaro de genocida.
O então deputado Jair Bolsonaro sempre foi defensor do voto impresso e autor de proposta legislativa neste sentido. O Governo Bolsonaro hoje apoia a proposta, como afirmou mais cedo o Ministro da Defesa, Gen. Braga Netto. Por sua vez, líderes do Centrão, incluindo o senador Ciro Nogueira, têm atuado para inviabilizar a proposta.
Possivelmente a intenção da fala do presidente foi a de minimizar as críticas que parte da base de apoio tem feito ao acordo de governabilidade feito pelo governo com o Centrão.
Estas críticas, em particular a nossa, não ignoram a necessidade de alianças para governar, mas sim a forma como foi feita tal aliança com o Centrão, que sugere muito mais uma relação de chantagem do que de acordo, em prejuízo do programa de governo de viés conservador aprovado nas urnas no último pleito.
Se a intenção do presidente foi minimizar estas críticas, a fala presidencial não foi feliz, até mesmo por conter uma inverdade, e uma inverdade que resulta em favor do presidente: pois o Centrão sintetiza em si e nas suas práticas fisiologistas, e muitas vezes corruptas e complacentes com a esquerda, tudo aquilo que o movimento político que levou Bolsonaro à Presidência repudia e condena.
No vídeo abaixo do período da campanha presidencial, o então candidato Jair Bolsonaro explica por que ele não é do Centrão.