por paulo eneas
Em entrevista à rádio Jovem Pan nesta terça-feira (12/10) o Presidente Bolsonaro desdenhou das manifestações recentes que ocorreram em todo o país sob o lema de #EuAutorizo: “Alguns dizem eu autorizo, mas não dizem autoriza a o quê”, afirmou o presidente.
O comentário foi feito em resposta à pergunta sobre o que ocorreu entre os dia 7 e 9 de setembro quando, após as gigantescas manifestações do Dia da Independência, o presidente divulgou uma carta à Nação onde basicamente pedia desculpas pelo que havia afirmado dois dias antes.
Na entrevista, o presidente admite mais uma vez ter conversado com o ministro Alexandre de Moraes, mas disse que não entraria nos detalhes do teor da conversa mantida com o magistrado.
O presidente afirmou que qualquer coisa da parte dele que saia errado custará um preço altíssimo à Nação. O que é rigorosamente verdade. Milhões de brasileiros, e não apenas “alguns” como diz o presidente, foram às ruas pacificamente tanto nas manifestações do #EuAutorizo quanto nas manifestações do dia 7 de Setembro para fazer a defesa da democracia, da liberdade de expressão e do Estado de Direito e para emprestar apoio ao presidente para que ele, na condição de Chefe de Estado, atuasse nos termos da Constituição Federal para assegurar esses preceitos.
O próprio presidente, em mais de uma oportunidade, foi explícito ao afirmar que esperava uma sinalização do povo, uma “fotografia”, para agir no cumprimento de seu dever. Quando o presidente diz que não sabe a quê foi autorizado ele está confessando não ter tido capacidade de captar o sentimento cívico e democrático presente naquelas manifestações e admite implicitamente não ter claro qual seu papel e suas obrigações como Chefe de Estado.
Na entrevista o presidente falou em não lançar o Brasil no caos e na necessidade de se viver na normalidade. Aqui outra vez o presidente sugere implicitamente que o exercício pleno de suas prerrogativas e obrigações de Chefe de Estado implicaria na instalação do caos no país, o que é uma inverdade desmedida.
O presidente parece ignorar que foi justamente sua incapacidade de cumprir seu papel de Chefe de Estado que lançou o país, objetivamente, no caos institucional em que vivemos, onde direitos e garantias constitucionais não são observados, onde a censura e o cerceamento à liberdade de expressão ocorrem por todo lugar sob o olhar complacente de quem jurou no ato de posse defender a Constituição Federal e a liberdade dos brasileiros.
Não faz sentido o presidente falar em normalidade quando o país assistiu nestes quase dois anos pessoas comuns sofrerem todo tipo de violência e de violação de seus direitos básicos a pretexto de ações de combate a pandemia. Não pode haver normalidade quando os cidadãos estão sendo segregados socialmente entre vacinados e não vacinados e perdendo seus empregos e até mesmo o direito de trabalhar com base em uma lei, a Lei 13.979, que o próprio presidente sancionou.
A suposta normalidade que o presidente enxerga no país, e em nome da qual ele resolveu abster-se de exercer suas obrigações e prerrogativas como Chefe de Estado contentando-se em permanecer nominalmente no cargo de presidente, enquanto seu governo faz todas as concessões imagináveis à agenda esquerdista, é uma normalidade que não existe. Trata-se isto sim, do mais completo desarranjo da vida política, institucional e social que o Brasil já assistiu nos últimos anos.