por rose rocha
“Democracia é a convivência dos contrários”. A frase que o jornalista Augusto Nunes ressalta em suas opiniões busca de forma sensata propor um pouco de lucidez e reflexão ao debate de princípios que tem dividido o País nos últimos anos. Porém, a dicotomia ideológica acentua a intolerância que castra o pensamento contrário, assassinando sobretudo, a verdade, que ressurte da argumentação.
A imposição do pensamento único proposto por uma minoria tem formado novos ignorantes que, numa visão monocromática da realidade, não pensam e não questionam – Atacam. A Nova Ordem da Imbecilidade acredita mesmo ser possível alterar uma cultura por meio da censura e da divisão da sociedade.
Certamente, personagens criativos como “Os trapalhões” e “Mamonas Assassinas” não sobreviveriam hoje, ao patrulhamento do politicamente correto que está extinguindo dentre outras coisas, o delicioso senso de humor do brasileiro. A fixação na busca pela virtude almeja construir indivíduos perfeitos e iguais, quando o próprio Deus os fez diferentes.
Não se adquire respeito devido à cor da pele, tipo de cabelo, condição financeira ou gênero sexual. Se adquire respeito por ser quem se é, pelo caráter que se tem e por aquilo que constrói – porque o indivíduo deve ser respeitado não por ser diferente, mas por ser humano. Contudo, a cultura do cancelamento quer ditar novas regras onde ficam de fora qualquer fio de sensatez. O canibalismo mental proposto pelos “canceladores” busca transformar pessoas em seres irracionais e alienados que agem em bando seguindo a sandice alheia.
Até mesmo a Língua Portuguesa fora alvejada pela inepta patrulha ideológica. Vez e outra, o idioma é aviltado pelos construtores da nova imbecilidade que tenta subverter a gramática, fuzilando o vocabulário com a imposição da linguagem neutra. Tais criaturas mal sabem a própria identidade e querem determinar um novo glossário ao nosso povo. Querem banir palavras que sequer conhecem o significado, amparadas apenas pela base de estudos provenientes do método Paulo Freire.
Aceitam mudar os termos para perseguir e punir pessoas, mesmo que a cultura continue a mesma e o debate empobrecido pela lacração. Mas a língua portuguesa é de posse de todos os brasileiros. Um idioma rico e sofisticado em termos e raiz – berço de Machado de Assis, José de Alencar, Drummond. Como ousam tais criaturas dizer como usaremos os pronomes?
A palavra denegrir, por exemplo, foi banida pela cartilha antirracista. Entretanto, o verbo vem do latim “denigraria”, que significa manchar. Denegrir a imagem de alguém não tem nada a ver com a raça negra. Apenas quer dizer que a imagem, antes translúcida e clara, ficou escura e manchada. Todavia, a arrogância vende a estultícia como verdade e os boçais a compram sem preguntar o preço.
No início do século XX, John Dewey William James e Charles Sanders Piers, dois filósofos americanos criaram uma escola de filosofia chamada pragmatismo (pragma em grego significa ação). A doutrina afirmava que a verdade de uma palavra depende de condutas deliberadas a partir de uma crença. Desta forma, se a imprensa relacionar o termo “futuro negro” à ideia de preconceito, um dia as pessoas deixarão de usar a expressão. O perigo é que o politicamente correto segue criando uma agenda de mentiras intelectuais; históricas, filosóficas e psicológicas a serviço do “bem para a humanidade”, gerando censura e perseguições a serviço do mundo que eles têm na cabeça.
Criticar não é atacar e a sociedade precisa estar atenta, visto que a liberdade de opinar está em risco no Brasil. Logo ficará proibido pensar e agir, pois a intolerância veste a tudo com a política dos extremos e onde germina a parvoíce, reinam os donos da verdade. A pluralidade de opiniões e o respeito ao pensamento contrário contribuem para o avanço da sociedade e evolução do indivíduo, pois o contraponto é, sobretudo, a busca pela verdade. Sem verdade não há liberdade. E sem liberdade, abre-se caminho para o retrocesso e ditaduras que domesticam a voz de uma nação.
Rose Rocha é jornalista e comentarista da Jovem Pan Maringá e Panflix. É produtora de TV e atuou como âncora dos telejornais da Band e Globo. É uma das vozes femininas com pensamento liberal-conservador no Brasil.