por paulo eneas
Jair Bolsonaro sequestrou para a si as manifestações que estavam marcadas para o último domingo (16/03) em várias capitais do país com uma pauta claramente não eleitoral e bem definida: o impeachment de Lula. E reduziu todos os atos a um evento único no Rio de Janeiro (RJ) com o objetivo de transformá-lo num instrumento de pressão na esfera da opinião pública para impedir sua provável prisão, sob o pretexto de ser um ato pela anistia aos presos do 8 de Janeiro. Para essa finalidade exclusiva, o tema do impeachment de Lula foi removido da pauta.
Ocorre que a baixa adesão à manifestação indica que a estratégia pode ter malogrado. Bolsonaro falava inicialmente em reunir um milhão de pessoas em Copacabana, mas o público que compareceu ao ato ficou muito abaixo disso. Os números divergem abruptamente: enquanto a imprensa e alguns institutos privados de medição falam num público de algumas dezenas de milhares de manifestantes, a Polícia Militar do Rio de Janeiro estimou a presença de cerca de 400 mil pessoas.
No entanto, os números da Polícia Militar do Rio de Janeiro contrastam com aqueles que podem ser deduzidos de imagens aéreas do evento deste domingo quando comparadas com as imagens aéreas de outros eventos massivos em Copacabana.
Além de ato realizado no Rio de Janeiro neste domingo, São Paulo também foi palco de mobilização esvaziada. Segundo informado pelo jornal Correio Braziliense, a adesão na Avenida Paulista foi frustrada e teria ocupado menos de um quarteirão, reunindo um pouco mais de um mil pessoas.
O grupo Farol da Liberdade, liderado por Abraham e Arthur Weintraub, também esteve presente na Avenida Paulista com a pauta original pelo Impeachment de Lula e com as pautas “Morte à Corrupção e Candidatura Independente”.
O Farol da Liberdade é uma entidade em torno da qual vem se formando um movimento conservador de direita, cujos membros e apoiadores estiveram no ato vestidos em roupas pretas carregando faixas em apoio às pautas de tolerância zero com a corrupção e pelo direito a candidaturas independentes.
As Implicações para Jair Bolsonaro
O advogado e analista político Leonardo Dias fez uma análise interessante sobre a manifestação deste domingo em Copacabana, cujos trechos principais afirmam:
“Bolsonaro acabou assinando sua sentença de prisão hoje. Nikolas e outros estavam organizando grandes manifestações contra o Lula em várias cidades, mas Bolsonaro sabotou, mandando juntar tudo em uma só manifestação em Copacabana, sem poder falar de Lula e só pedindo anistia pra si próprio, querendo ser o centro das atenções”.
“(…) Em vez de atacar os adversários, mais uma vez usou a estratégia de só se defender, pedir clemência e, ainda por cima, o público em Copacabana foi muito pequeno, bem inferior ao que todos esperavam”.
Com esse fracasso, ele deu um empurrãozinho pra própria prisão. Antes, os membros do STF podiam hesitar em prendê-lo, com receio de uma possível revolta popular. Mas, depois de ver que ele não arrastou quase ninguém hoje, os ministros agora têm certeza de que Bolsonaro perdeu força popular e que prendê-lo não vai causar caos nenhum.(…)”
De minha parte eu faria a seguinte observação a esta análise realista do Dr. Leonardo Dias: No meu entender nunca existiu hesitação por parte do Judiciário em aplicar a lei por temor quanto a uma possível “revolta popular” em reação a uma possível prisão de Jair Bolsonaro. Essa narrativa de revolta popular foi cuidadosamente plantada no imaginário da direita para tentar criar uma falsa imagem de força de seus pseudo líder, Jair Bolsonaro.
Lembremos que os petistas diziam a mesma coisa anos atrás ante a possível prisão de Lula: “vamos botar fogo no país”. Lula teve prisão decretada, reuniu um punhado de chorões na sede do sindicato no dia da prisão e no dia seguinte a vida do país continuou igual, ruim como sempre foi e continua sendo. Da mesma forma, entendo que manifestações como as desse domingo terão peso igual a zero na decisão final que será tomada pelo Judiciário. Colaboração Angelica Ca.

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