A INFLAÇÃO NO BRASIL & NO MUNDO
Vamos à verdade do fatos: a inflação ocorre no mundo todo, mas não é a mesma no mundo todo e não impacta da mesma maneira as distintas populações de cada país. O Brasil teve a 4a maior inflação anualizada do mundo em maio desse ano: 11.7% e ficou atrás apenas da Turquia (73.5%), Argentina (58.0%) e Rússia (17.1%), segundo ranking de 23 países da Austin Rating.
No mesmo mês, a taxa de inflação anualizada foi de 8.6% nos Estados Unidos. Ocorre que a inflação, especialmente nos alimentos, impacta de modo diferente os americanos e os brasileiros, ainda que tomando os segmentos de baixa renda de cada país. O americano médio gastava 5.5% de sua renda com alimentação em 2007, segundo a Farm News.
Supondo uma piora absurda do cenário, imaginemos que este gasto tenha mais que dobrado para 15.0% da renda dos americanos. Ocorre que o brasileiro médio de baixa renda, que forma mais da metade da população, gasta mais da metade (mais de 50.0%) de sua renda com alimentos.
Portanto, dizer que a inflação é a mesma no mundo todo além de ser um discurso politicamente míope e eleitoralmente desastroso, é uma desonestidade intelectual.
Pois a comparação de índices inflacionários deve ser feita não apenas olhando para seu valor nominal, mas pelo modo como cada índice impacta diferentes populações em relação ao respectivo gasto com alimentos relativamente à renda daquela população.
Causa da inflação: erro na condução da política monetária. Em Julho/20 o Banco Central derrubou a Selic para 2.0% quando o dólar estava a R$5.22 com viés de alta. A Selic só voltou à taxa de equilíbrio em Set/2021 indo a 6.25%. Hoje a Selic está 13.25% e o dólar prossegue acima de R$5.00 desde então. Pagamos por esse erro até hoje com a inflação. Detalhes nesta segunda-feira no Crítica Nacional.
O erro na condução da política monetária, e seu reflexo no câmbio, manteve super desvalorizada a moeda de um país exportador de commodities no momento em que o mundo mais precisa delas. Era para estarmos agora nadando de braçadas nesse cenário e não nos afogando em inflação.
Observem a sandice deste comportamento. Enquanto Lula diz ao segmento mais pobre da população que na época dele esse segmento se alimentava melhor (e enquanto comia melhor não via os absurdos que o petismo cometia contra o País) a mensagem da militância bolsonarista para este este mesmo segmento diz a ele para ele se conformar, limitar-se às suas necessidades básicas e não reclamar, pois na Dinamarca e na Suécia e no raio que os parta a situação também está ruim (o que é um flagrante mentira).
Qual a chance desta estratégia kamikaze dar certo? Zero.
Note-se também que quase todos os comentários, inclusive os insultos (próprios dos bolsonaristas no debate político), trazem em comum o apelo à resignação, a conformar-se com a situação, pois afinal as coisas são assim mesmo e nada se pode fazer.
O bolsonarismo produziu uma metamorfose na ex-direita que existia. Tínhamos antes uma direita que se indignava, protestava e lutava contra o establishment político em defesa do que era considerado certo e justo. Eram as tais pautas, das quais ninguém mais fala.
Hoje temos uma ex-direita que emprega toda sua energia para defender o establishment político, uma ex-direita que diz ao público para conformar-se e resignar-se e abrir mão de defender e lutar por qualquer coisa, exceto pela manutenção do status quo político com Bolsonaro à frente dele.