por paulo eneas
A permanência ou exoneração do ministro Santos Cruz não é assunto resolvido no governo, apesar do esforço imenso que vem sendo feito pela grande imprensa para blindar e proteger o ministro. Observe-se que é o mesmo esforço de blindagem e proteção que a grande imprensa fez em relação ao ex-ministro Gustavo Bebianno que, embora estivesse em vias de ser exonerado, era apresentado por essa imprensa como estando em posição firme e sólida no governo.
Na hipótese de a exoneração de vir a ocorrer seguramente não será pelos motivos que foram ingenuamente alegados pelo blog O Antagonista essa semana. O blog informou sobre uma suposta conversa de corredor, de conteúdo depreciativo em relação ao presidente, que teria sido mantida entre o ministro e outro integrante do governo. Essa conversa teria motivado a intenção do presidente de exonerar Santos Cruz, intenção da qual teria sido demovido por aconselhamento de assessores.
Ao nosso ver essa versão é simplista demais, e esconde a real natureza do problema que envolve a atuação do ministro no governo. Pois não faria sentido o presidente exonerar um ministro por conta de uma suposta conversa de corredor ou piada de mau gosto, cabendo nesse caso no máximo uma repreensão reservada.
O que está em questão é aquilo que entendemos ser a ingerência indevida do ministro em pastas não subordinadas à sua secretaria, e com o claro objetivo de contrariar as determinações do Presidente da República.
Dois episódios claros de ingerência para atender interesses não esclarecidos
Ocorreram no mínimo dois episódios em que o houve clara ingerência de Santos Cruz em área distinta daquela de sua pasta.
No primeiro episódio, que descrevemos no artigo Diretora da Apex Pressionada Por Recusar Assinar Contrato Com Empresa Investigada na Lava-Jato, publicado em 11/04, a então diretora da Apex, Letícia Catelani, teria sofrido pressão da parte do ex-presidente do órgão para renovar contrato com uma agência de publicidade, a Terruá, que foi citada em relatório de investigação da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo nossas fontes informaram, o ministro Santos Cruz teria tentado convencer o Presidente Bolsonaro de que tal investigação não existia, atuando portanto em favor da agência.
O segundo episódio foi a ingerência explícita do ministro para insistir na renovação do convênio entre a Apex e o Sindicato de Produtores Audiovisuais de São Paulo, conforme descrevemos em detalhes com cópias de e-mails e prints de mensagens de WhatsApp no artigo Mensagem da Presidência da Apex e E-mails Indicam Ingerência de Santos Cruz em Órgão Fora de Sua Competência, publicado em 09/05.
Viagem oportuna em companhia do Presidente Bolsonaro
Segundo nossas fontes, o ministro havia agendado participação no Invest Brazil Conference, evento que está realizado essa semana pelo Council of Americas em Nova York e do qual estão participando João Doria e Rodrigo Maia entre outros. O ministro cancelou sua participação de última hora para acompanhar o Presidente Bolsonaro em Dallas, Texas, justamente sabendo da vulnerabilidade de sua posição no governo.
Parte da grande imprensa está interpretando a ida de Santos Cruz a Dallas como sinal de prestígio junto ao presidente. Trata-se de uma interpretação no mínimo forçada, pois cumpre lembrar que o ex-ministro Gustavo Bebianno foi exonerado algumas semanas depois de acompanhar o Presidente Bolsonaro em sua visita a Davos, na Suíça. Portanto, estar em comitiva presidencial em viagens internacionais não significa necessariamente “imunidade ministerial” para ninguém.
Se o Presidente Bolsonaro irá ou não exonerar Santos Cruz, nós não sabemos. O que temos convicção é que existem elementos o bastante tanto em termos de conduta quanto em termos de falas do ministro – especialmente sobre regulação de redes sociais e seu visível boicote verbal à decisão do Presidente de mudar a Embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém – que evidenciam ao nosso ver que o senhor Santos Cruz não pode continuar no cargo. #CriticaNacional #TrueNews #RealNews