pela redação
Os websites Avança Brasil, Crítica Nacional e Liga Patriótica divulgaram nesta segunda-feira (09/12) um documento conjunto questionando o fato da pesquisa amostral do Datafolha apresentar totalização diferente do universo de 100%. A pesquisa também faz uma comparação imprópria e equivocada de períodos de ex-presidentes em comparação com o atual presidente, Jair Bolsonaro.
A Agência Lupa, hospedada pelo site UOL e pela Folha de São Paulo, alega ter “checado” os dados e afirma que é incorreta a informação (1) de que a pesquisa do Datafolha, publicada pelo jornal Folha de São Paulo do mesmo grupo econômico, seja falsa. Provaremos abaixo que essa suposta verificação ou checagem feita pela Lupa foi inepta, contaminada por viés político e por conflito de interesses, como demonstraremos a seguir.
1. CONFLITO DE INTERESSES
O enredo verificado está contaminado por conflito de interesses entre grupos econômicos controladores das partes envolvidas, uma vez que:
a) Datafolha pertence ao grupo Folha
b) Folha de São Paulo pertence ao grupo Folha
c) UOL pertence ao grupo Folha
d) Agência Lupa está hospedada sob o banner, logotipo e endereço do UOL e da Folha de São Paulo.
Segundo a própria agência informa, a Lupa está incubada no site da Revista Piauí, no modelo de startup, e por extensão no website da Folha de São Paulo e do UOL. Portanto, existe um notório conflito de interesses e falta de isenção para realizar uma verificação sobre o tema proposto, pois todas as iniciativas pertencem ou estão sob a influência do mesmo conglomerado.
Ou seja, o mesmo grupo econômico produz a informação, publica e checa. O nome disso é tentativa de cartel ou oligopólio.
Isso é mais uma demonstração de que uma série de supostas agências de checagem nada mais são do que coletivos políticos com contaminação ideológica. Um dos pressupostos básicos da atividade de checagem de fatos é que exista independência entre quem produz, veicula e verifica a informação. Não é o caso desta situação concreta.
É necessário portanto que as autoridades governamentais entrem em cena para coibir essa prática, que pode se configurar em monopolista e oligopolista. É preciso que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), seja acionado para avaliar uma condição que pode ser configurada como posição dominante, poder de mercado, abuso de poder econômico, concentração horizontal, concentração vertical, monopólio, e outras práticas. A respeito dessas práticas, o website do CADE afirma o seguinte:
Quando ocorre posição dominante?
A Lei de Defesa da Concorrência determina que ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de empresas controla parcela substancial de mercado relevante como fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador de um produto, serviço ou tecnologia a ele relativa, de tal forma que a empresa ou grupo de empresas seja capaz de, deliberada e unilateralmente, alterar as condições de mercado.
Fonte: http://www.cade.gov.br/servicos/perguntas-frequentes/perguntas-gerais-sobre-defesa-da-concorrencia
2. FALHA NA CHECAGEM
O website Crítica Nacional publicou no dia 09/12 uma matéria contendo a expressão “Erro Elementar De Matemática”. A mesma expressão que veio a ser repetida, quase literalmente, pela agência Lupa no dia seguinte ao publicar “Erro matemático elementar”.
Erro matemático elementar ou deslizar na matemática é publicar, apresentar e checar uma soma de 99%, quando o número deveria ser de 100%, sem explicar a razão dessa discrepância e julgar esse procedimento como sendo correto, sem explicar claramente aos leitores quais as razões para essa distorção. A propósito, veja-se o comentário feito pelo leitor Oliveira Garcia Igor (2):
Sobre o arredondamento, nada que seja dito esclarece um arredondamento injustificado. Porque a pesquisa não aponta as justificativas concretas para o arredondamento, quando, na verdade, deveria mostrar os números que foram arredondados, e por qual critério, e como isso influencia no resultado final.
A alegação de que existe um documento genérico com “políticas de arredondamento” não se presta como fonte de checagem, porque esse documento (inserto em entulhos de documentos explicativos e não visível nas matérias que divulgaram a referida pesquisa equivocada) não trata do caso concreto (pesquisa veiculada em 08/12/2019) e não diz quais os números que foram arredondados, e por qual razão.
A informação continua obscura e incorreta, e a tentativa de acobertamento travestida de “checagem” não conseguiu esclarecer o fato mais importante desse episódio: Por qual razão a pesquisa não soma 100%? A simples alegação de que isso se deve genericamente a arredondamentos não elimina as dúvidas sobre o resultado da pesquisa, pois não fica claro quais números foram arredondados.
E se os números foram arredondados, por quais razões concretas o universo posterior ao arredondamento não totaliza 100%? Essa informação deveria ter constado do gráfico, ou de notas explicativas, ou do texto de divulgação. Uma nota ofuscada, dentro de um universo de milhares de documentos explicativos genéricos, não tem o condão de esclarecer os leitores e deixar a informação clara e transparente.
O fato de existirem outras pesquisas ou outros resultados com arredondamentos que diferem de 100% somente demonstra aquilo que a população, e o próprio Presidente da República, vem questionando: a eficiência das pesquisas realizadas pelo método amostral.
A população estudada tem 100%. A soma das amostras necessita, rigorosamente, espelhar o mesmo universo pesquisado, para que sua credibilidade seja plena. Se assim não for, existem opções, quais sejam:
a) Ou mostrar os números completos (com as casas decimais) e deixar que os leitores façam as suas conclusões.
b) ou dizer quais os números foram arredondados, e por qual razão.
No caso específico, o que se verifica é que toda a série histórica do item avaliação do governo resulta em somas de 99%, nos resultados de abril, julho e agosto. A probabilidade de que todos os arredondamentos de todas as séries históricas desde o mês de abril resultem em 99% é baixíssima em termos probabilísticos, pois todos os números anteriores teriam que resultar nas mesmas dízimas.
Esse fato indica forte possibilidade de intervenção humana no universo numérico ou de “correções” nos números, através de estratégias de arredondamento. É primário que uma agência que se auto intitula de “checagem”, deixe passar um detalhe relevante como esse, e se apresse em atacar a notícia que verifica esse fato, em vez de verificar o fato em si.
O fato adquire uma gravidade ampliada na medida em que, no caso concreto, esse 1% “desaparecido” altera completamente a principal conclusão da pesquisa, fazendo com que o resultado passe a ser de empate técnico entre os principais itens pesquisados.
As principais perguntas ainda estão sem resposta. Por qual razão não publicaram os números completos? Por quais razões uma série histórica de um ano inteiro apresentou sempre as mesmas dízimas e os mesmos arredondamentos, todas totalizando 99%?
Essas inconsistências evidenciam ao leitor o baixo nível de checagem de fatos que se pratica no Brasil atualmente. A auto-proclamada “checagem” da Lupa, sequer se ocupou ou não conseguiu, ou não percebeu, que todas as somas da série histórica “avaliação de governo” totalizam 99%.
Uma checagem correta e isenta indagaria ao Datafolha e à Folha de São Paulo (do mesmo grupo econômico com o qual a agência de checagem tem relações) por qual razão a pesquisa divulgada não contém uma explicação explícita sobre o “sumiço” de 1% dos dados do cenário “avaliação do governo”, e por qual razão todos os arredondamentos, ao longo de 11 meses, sempre deram 99%.
3. CHECAGEM INCOMPLETA
Verifica-se que o outro equívoco contido na referida pesquisa e apontado nas matérias do Avança Brasil, Crítica Nacional e Liga Patriótica não foi atacado pela suposta checagem. Diz respeito ao comparativo incorreto de períodos de governo. Ou seja, a imputação feita por Avança Brasil, Crítica Nacional e Liga Patriótica é verdadeira.
A pesquisa, e as matérias que a repercutiram, apresentam uma distorção ao comparar períodos diferentes de presidentes da república. Ao colocar no gráfico os dados de 1991 (referentes a Collor) e compará-los a 2019 (referentes a Bolsonaro), a metodologia erra grosseiramente pois:
a) Ou comparou 2 meses e 15 dias de 1991 de Collor, contra 11 meses de Bolsonaro.
c) Ou utilizou 9 meses e 15 dias de 1990 de Collor, para integralizar 12 meses de mandato, mas ocultou essa informação no gráfico, o qual deveria dizer “1990/1991”, e não somente 1991, como constou da pesquisa e da matéria citada.
Isso indica ainda um outro erro metodológico grave, pois o gráfico estaria comparando 11 meses de Bolsonaro com 12 meses de todos os demais presidentes comparados (e somente 2 meses e 15 dias de Collor).
Outro erro metodológico é comparar pesquisas com totalização de 100% dos demais presidentes contra um universo que totaliza 99% de Bolsonaro, o que significa comparar dados apurados com regras diferentes. Se a regra de arredondamento é diferente nesses universos (e alguns deles totalizaram 100% e outros não), então esses dados não podem ser comparados entre si. O comparativo, portanto, é imprestável, e a referida agência de checagem não refutou esse fato.
4. VIÉS POLÍTICO
Veja-se outros temas checados pela referida agência, a qual deixa claro que consideram como verdadeiros os diálogos vazados pelo Intercept. É sabido que tais diálogos não passaram por nenhuma checagem, sendo que vários de seus interlocutores negam os termos e a existência das mensagens da forma como foram apresentadas.
O Intercept em momento algum apresenta os prints originais das conversas, e recentemente, como se viu, um dos participantes dessa iniciativa criminosa declarou, em delação premiada, que houve algum tipo de adulteração em tais diálogos. Mesmo assim a Agência Lupa, em comentário no dia 23/10/2019, sustenta que tais diálogos são “verdadeiros”.
Da mesma forma, a mesma agência já havia declarado, em 23/10/2019 (mesmo antes de o Datafolha divulgar os dados em questão) que Bolsonaro é o “presidente mais mal avaliado da série histórica, pegando o Datafolha” (sic), como se verifica:
Assim, e a par de já ter se pronunciado publicamente sobre o tema anteriormente, o que reforçaria a configuração de conflito de interesses, o que se percebe é que a checagem aludida foi parcial e influenciada por fatores subjetivos e credos políticos.
A título de curiosidade, colacionamos algumas das manchetes de “checagens” da referida agência, a qual mais se parece como “relações públicas de Lula”, do que com uma verdadeira central de checagem de fatos, ocupando muito do seu tempo e energia em esclarecer fatos em favor do ex-presidente (e seus correligionários) e, em contrapartida, realizar verificações em detrimento de medidas do atual governo e dos movimentos ativistas independentes e dos protestos de rua, chegando a afirmar que “protestos são um prato cheio para desinformação”.
O fato é que Folha de São Paulo e Datafolha estão em uma linha de ataque frontal contra um governo legitimamente eleito, como se percebe por manchetes recentes associadas aos seus dados:
Datafolha: Maioria aprova Lula livre e confia mais nele que em Bolsonaro.
Datafolha: é mais provável impeachment do que reeleição de Bolsonaro.
Suas informações não estão mais abrangidas pela imparcialidade jornalística, e não é de se estranhar que em breve apareçam com alguma “pesquisa” dizendo que “a maioria da população é favorável ao impeachment” ou algo parecido.
Segue-se abaixo algumas supostas checagens feitas pela Lupa, e que estão disponíveis no site da agência Lupa, do UOL e da Folha de São Paulo, onde se vê claramente o viés político mencionado:
• #VERIFICAMOS: LULA NÃO ‘CONFESSOU SER LADRÃO’ NEM ENTREGOU SEUS COMPANHEIROS EM DISCURSO
• #VERIFICAMOS: É FALSO QUE FILHO DE LULA APANHOU EM RESTAURANTE EM ANGRA DOS REIS
• #VERIFICAMOS: É FALSA ‘DENÚNCIA’ DE EX-DEPUTADO DO PT SOBRE LULA E NARCOTRÁFICO
• Ministério da Saúde bloqueia acesso a dados do Mais Médicos em seu site
• Em entrevista, Mandetta erra ao falar dados sobre o Programa Mais Médicos
• #Verificamos: É montagem foto de ex-presidente Lula coberto de ovos
• #Verificamos: Lula não disse que é contra deixar jovem preso “só porque ele matou”
• #Verificamos: É falso que orçamento do governo saiu do vermelho pela primeira vez em 20 anos
• Verifica T1-EP14: protestos são prato cheio de desinformação – e não só no Brasil
• #Verificamos: Lula não disse que evangélicos votam no PT por “grão de arroz na mesa”
• #Verificamos: É montagem vídeo de ônibus londrino com os dizeres “Lula ladrão”
• #Verificamos: É falso que Lula pediu ao STF para passar lua de mel em Dubai
• Verifica T1-EP12: STF, Lula e a desinformação no novo capítulo da política brasileira
• Críticas ao STF, Foro de SP e inflação: Bolsonaro erra em fala a O Antagonista
• #Verificamos: É falso que Luciano Huck emprestou jatinho para Lula ir a SP após soltura
• #Verificamos: Vídeo não mostra preparativos para comemorar libertação de Lula em Curitiba
• Salles erra ao dizer que Greenpeace não ajudou a limpar praias atingidas por óleo no Nordeste
• Em live, Bolsonaro erra ao atribuir à revista Veja que Witzel vazou informações para a Globo
• #Verificamos: É falso que DF fez palestra para professores contra governo Bolsonaro
• #Verificamos: É falso que Lula tenha 243 milhões de euros no Banco do Vaticano
• #Verificamos: Vídeo de Lindbergh Farias no Vidigal não mostra “flagra” de compra de drogas
Referências:
1) https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/12/10/verificamos-datafolha-numeros-falsos/
2) https://criticanacional.com.br/2019/12/09/datafolha-divulga-pesquisa-com-erro-elementar-de-matematica/