Donald Trump está se revelando um amador nas estratégias de negociação sobre comércio internacional e que desconhece por completo a real natureza do regime de ditadura chinesa, pois acreditou que poderia blefar com o Partido Comunista Chinês sobre as tarifas. A resposta da China nos últimos dias poderá custar caro aos Estados Unidos.
por paulo eneas
A semana que passou foi marcada pela sequência de capítulos espetaculosos da maneira leviana e amadora com que Donald Trump tem tratado as relações comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo no que diz respeito às tarifas de comércio internacional. A cada decisão anunciada, no dia seguinte Donald Trump vinha com um recuo, sinalizando assim a falta de apoio e respaldo do setor produtivo norte-americano à sandice que tem guiado a política comercial da Casa Branca.
A última decisão de Donald Trump foi a de impor tarifas de 145% a todos os produtos importados da China, que reagiu impondo a mesma tarifa em reciprocidade aos produtos importados dos Estados Unidos e falando abertamente em desacoplamento das duas economias, ou seja, o fim de todas as transações comerciais entre os dois países. Mas o pior estava por vir.
Cabe aqui antes uma observação prévia: a China precisa do mercado norte-americano para exportar seus excedentes manufaturados e dar sobrevida a seu modelo econômico exportador sobre o qual se assenta seu regime de ditadura? Sim. A China teme o poderio econômico, e também militar, norte-americano? Seguramente sim, e prova disso é que a reação inicial chinesa às primeiras investidas destrambelhadas de Donald Trump veio em forma de uma resposta moderada e calculada.
Ocorre que aparentemente a China já percebeu que não tem por que temer Donald Trump, pois os chineses já entenderam que o atual chefe da Casa Branca não passa de um amador no xadrez geopolítico. Um amador que acha que pode chutar aliados estratégicos e históricos, como Europa e Canadá, e que acredita mesmo que as regras e o ambiente de comércio internacional são os mesmos das negociações comezinhas domésticas do mercado imobiliário.
No dia seguinte ao anúncio das tarifas de 145% sobre a China, Donald Trump recuou duplamente: anunciou suspensão por noventa dias de decisão anterior sobre tarifas para mais de cem outros países, e a isenção tarifária para uma classe de produtos manufaturados chineses, incluindo computadores, chips, celulares, placas de energia solar e outros.
Ou seja, para o consumidor americano, vai continuar sendo mais vantajoso e barato importar esses produtos da China do que comprar seus similares que venham a ser fabricados nos Estados Unidos, pois estes terão obrigatoriamente componente importados da China, que continuarão sendo taxados em 145%. Ao menos até o próximo recuo de Trump.
Portanto, a promessa da “reindustrialização” americana continuará sendo apenas mais uma bravata trumpista, pois após o vai e vem de Donald Trump tornou-se mais caro para qualquer empreendedor tentar fabricar computadores, chips, celulares e painéis solares nos Estados Unidos. Graças a Donald Trump, os Estados Unidos são nesse momento menos competitivos do que já eram antes nesse setor de indústria de ponta.
O Partido Comunista Chinês Não Blefa
Logo após o recuo trumpista, a China reagiu com maestria: em vez anunciar alguma medida de reciprocidade favorável, como possivelmente Trump esperaria, os chineses anunciaram neste final de semana a restrição de exportações para os Estados Unidos de minerais raros chineses, que são cruciais para a indústria de tecnologia e do setor militar norte-americano. Um golpe duro que seguramente não estava no limitado e quase inexistente horizonte estratégico de Donald Trump.
A maneira pela qual a China vem reagindo ao amadorismo trumpista mostra que os chineses já perceberam que as ideias presentes no panfleto em forma de livro chamado a “Art Of The Deal” não passam de um blefe de marketing político para construção de imagem pessoal, e que não revelam maestria estratégica alguma. É apenas showbiz para consumo interno das massa de idólatras.
A reação da China diante dos próximos blefes, seguidos de recuos, de Donald Trump poderá confirmar essa nossa análise.
O fato é que nesse momento os Estados Unidos estão em posição enfraquecida na guerra comercial brancaleônica iniciada por Donald Trump contra a China. O país também está enfraquecido na sua relação com os já quase ex-aliados, como Canadá e Europa. Nessa semana, líderes europeus anunciaram a disposição de não mais comprar equipamentos militares americanos, por falta de confiança, no esforço já anunciado de rearmar a Europa.
A prova desse enfraquecimento americano aparece também no setor financeiro: pela primeira vez na história há um ambiente de quebra de confiança dos investidores nos títulos de longo prazo da dívida pública americana. Por décadas, títulos do tesouro norte-americano foram considerados o ativo mais seguro e confiável do mundo, o porto seguro em todos os cenários de crise.
Esta semana que passou, no entanto, vimos o aumento exigido no valor do prêmio de risco (juros cobrados) pelos títulos de longo prazo da dívida americana: saíram de 4.3% para mais de 5.0% ao ano em poucos dias para os títulos de dez anos, os chamados Treasuries 10YR. Um desastre sem precedentes, pois o aumento nos juros desses títulos eleva a pressão na já enorme dívida pública americana e inaugura um ambiente de desconfiança que nunca existiu antes, nem mesmo na pandemia da covid ou durante a crise de subprime de 2008.
O fato é que Donald Trump está sendo um desastre para os Estados Unidos e para o todo o Ocidente, conforme antecipamos que seria ainda no ano passado, antes mesmo das prévias do Partido Republicano. Um desastre que conta com o apoio cego da doentia e deformada direita ocidental, que colocou-se quase toda ela ao lado do eixo dos regimes de ditadura e aplaude as sandices trumpistas que estão fazendo Vladimir Putin e Xi Jinping sorrir como nunca imaginaram.
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