Olavo de Carvalho: A Atuação de um Escritor e de um Filósofo Não É a Mesma de um Cabo Eleitoral

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Nunca vimos ou veremos militantes de esquerda comportando-se da mesma maneira que uma parcela da incipiente direita nacional, que despreza os poucos intelectuais de seu campo e age como se a roda da política tivesse sido inventada em 2019.


por paulo eneas
Na entrevista concedida nesta terça-feira (28/12) no canal do jornal Brasil Sem Medo, o professor Olavo de Carvalho discorreu, entre outros, sobre o papel de um escritor e filósofo no que diz respeito às implicações de seu trabalho na esfera da política.

O trecho da entrevista em que o professor Olavo de Carvalho fala a respeito do tema é de uma riqueza e clareza ímpares, e merece ser apreciado e apreendido como uma das mais importantes reflexões sobre como ocorre a guerra cultural e como ela se desdobra na esfera política. O professor afirmou:

“Em primeiro lugar, a atuação de um escritor ou de um filósofo não é [a mesma] de um cabo eleitoral. Ele não influencia pelo número de pessoas que leram os seus livros, mas pelo número de palavras e conceitos que ele pôs em circulação.

Toda a linguagem desse pessoal direitista bolsonarista foi eu quem criei, toda ela. Eles não inventaram nada. Eles tentam pensar do jeito que eu ensinei a pensar. Pensam mal, mas alguma coisa eles aprenderam.

E tudo que aprenderam, aprenderam comigo, não teve mais ninguém para ensinar-[lhes]. Inclusive o próprio [Presidente] Bolsonaro, inclusive o senhor Sérgio Camargo [presidente da Fundação Palmares que fez afirmações nas redes sociais esta semana procurando desqualificar a importância do professor Olavo de Carvalho para os conservadores brasileiros].

A função do escritor é criar uma cultura, não é criar um eleitorado. O eleitorado é um efeito secundário da cultura. Se eu já criei cultura, para que eu preciso criar eleitorado? Se não tem outra cultura, as pessoas seguem a cultura que existe. Por que antigamente todos votavam na esquerda? Por que eram esquerdistas? Não! É por que só existia cultura esquerdista.

Até o eleitor mais direitista votava na esquerda por que não havia outra cultura. Ele não sabia pensar fora dos cânones da esquerda, por mais que ele a odiasse. Eu ensinei outras coisas, outras palavras, outros conceitos, outros valores, outros símbolos e toda uma cultura, não por que eu desejasse que a direita dominasse tudo, mas [por que eu desejava] que existisse direita e esquerda. E isto existe hoje.

Portanto, a briga que eu criei está vencida. Eu mostrei que eu sei fazer, agir na esfera política. Mas esse pessoal não sabe. Por mais recursos e dinheiro que tenham, eles não sabem fazer”.

A fala do professor serve para esclarecer uma enorme confusão existente entre os apoiadores do presidente a respeito o papel dos intelectuais na guerra política e cultural. É fato que milhões de pessoas votaram no então candidato Jair Bolsonaro sem nunca terem ouvido falar em Olavo de Carvalho.

Mas existe uma diferença entre a massa de eleitores votantes, e o recorte social formado pela militância que propaga e difunde as ideias e valores formulados na alta cultura pelos intelectuais, traduzindo-os em plataforma política-eleitoral. A esquerda entende este mecanismo muito bem, há mais de um século, e por esta razão valoriza seus intelectuais e obtém vitórias, como mostramos no artigo abaixo.

Da mesma forma, em uma comparação puramente formal, pode-se perguntar quantos eleitores do petista Lula chegaram a ler ou conhecer os principais intelectuais petistas. Seguramente uma minoria ínfima, quase irrelevante eleitoralmente. Mas nem por isso os petistas consideram seus intelectuais descartáveis e dispensáveis, como faz a direita.

Nunca vimos ou veremos militantes de esquerda comportando-se da mesma maneira que uma parcela da incipiente direita nacional, que despreza os poucos intelectuais de seu campo e age como se a roda da política tivesse sido inventada em 2019.

Leia também:
Os Intelectuais Como Agentes da Guerra Política-Cultural na Perspectiva da Esquerda & da Direita


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