A OTAN Representa Uma Ameaça à Soberania Nacional Brasileira? Como Funciona o Processo de Decisão da Aliança?

Data:

Compartilhe:

por paulo eneas
Uma tese, se é que pode ser chamada assim, que tem ganhado força entre setores da direita putinista-duguinista brasileira, é a de que a grande ameaça à nossa soberania nacional seria representada pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a principal aliança militar formada também, mas não apenas, pelas democracias liberais do Ocidente.

Segundo esta tese, que reúne todos os elementos de uma teoria conspiratória, a OTAN poderia em algum momento invadir militarmente o Brasil para atender aos interesses dos globalistas ocidentais e sua agenda, que inclui a Agenda 2030 da ONU e as demais pautas da esquerda globalista ocidental, desde ambientalismo até questões envolvendo ideologia de gênero e pautas identitárias.

Esta tese conspiratória advém de uma série de equívocos grosseiros presentes na direita brasileira, que desconhece o que de fato são os organismos transnacionais do Ocidente e como eles funcionam, inclusive aqueles organismos mais abertamente alinhados com as pautas e interesses dos globalistas, como a União Europeia, que seguramente estão em conflito com os interesses da soberania nacional brasileira.

Crítica Nacional é uma mídia independente que mantém-se fiel ao compromisso com a verdade e a defesa de valores conservadores, e precisa do apoio de seus leitores para continuar. Apelamos encarecidamente ao nosso público para contribuir conosco pelo PIX: 02259742823 ou através deste link para fazer assinatura de apoio.

O primeiro equívoco é acreditar que a OTAN é o braço armado da Nova Ordem Mundial, o que pressupõe assumir que o aquilo que chamamos de Nova Ordem Mundial não é um projeto de poder abraçado por distintos blocos globalistas – o ocidental, o russo-chinês e o bloco islâmico – mas sim uma realidade institucional já existente e que já possui até mesmo uma governança e uma estrutura militar transnacional pronta para agir em seus interesses.

Não faz sentido falar em OTAN como braço da Nova Ordem Mundial justamente pela estrutura desta aliança militar: ela é composta de trinta países-membros que colocam-se em campos distintos ou mesmo conflitantes em relação aos projetos de poder de natureza globalista. Por exemplo, a Turquia é um país islâmico membro da OTAN.

Que sentido faria imaginar-se militares turcos, e portanto muçulmanos, combatendo em campo em favor de pautas como ideologia de gênero, feminismo, ambientalismo e outras? Países como Hungria, Polônia, Romênia, República Tcheca que integram a OTAN estão longe de serem nações cujos governos atuam em favor das pautas ideológicas globalistas.

No caso particular da Hungria e da Polônia, estes dois países estão há tempos em pé de guerra com a cúpula da União Europeia, da qual também fazem parte, justamente por resistirem às tentativas de imposição vindas de Bruxelas das pautas globalistas associadas à imigração, ideologia de gênero, feminismo, educação sexual de crianças, etc.

Crítica Nacional é uma mídia independente que mantém-se fiel ao compromisso com a verdade e a defesa de valores conservadores, e precisa do apoio de seus leitores para continuar. Apelamos encarecidamente ao nosso público para contribuir conosco pelo PIX: 02259742823 ou através deste link para fazer assinatura de apoio.

Na semana passada, conforme mostramos em reportagem do Crítica Nacional, estes dois países foram punidos pela Comissão Europeia com a suspensão do repasse de recursos financeiros do bloco justamente por não aderirem à agenda ideológica esquerdista da União Europeia. Agenda esta que tem na Alemanha seu principal proponente. Estes fatos concretos nos permitem depreender uma primeira conclusão:

A OTAN não é um projeto de poder globalista, uma vez que seus países-membros fazem parte de campos de projetos de poder globalista distintos, ou simplesmente não fazem parte de projeto algum, como a maioria dos países-membros do leste europeu.

Diferentemente da União Europeia, que constitui-se ela sim em um claro projeto de poder globalista em nível regional hostil às soberanias nacionais de seus países-membros, o que resultou na saída do Reino Unido do bloco no Brexit, a OTAN é unicamente uma aliança militar surgida no contexto da guerra fria, e que manteve-se em função das ameaças constantes do expansionismo russo.

Como são tomadas as decisões na OTAN
Também diferentemente da União Europeia, as decisões na OTAN são tomadas obrigatoriamente por meio de consenso entre todos e cada um de seus trinta países-membros, segundo seus estatutos. No website da OTAN, o sumário executivo do processo de decisão é explícito ao afirmar:

Consensus decision-making is a fundamental principle which has been accepted as the sole basis for decision-making in NATO since the creation of the Alliance in 1949. Consensus decision-making means that there is no voting at NATO. Consultations take place until a decision that is acceptable to all is reached.

A tomada de decisão por consenso é um princípio fundamental que foi aceito como o único critério para tomada de decisão na OTAN desde a criação da Aliança em 1949. A tomada de decisão por consenso significa que não existe votação na OTAN. Consultas são realizadas até que se chegue a uma decisão aceitável para todos.

Crítica Nacional é uma mídia independente que mantém-se fiel ao compromisso com a verdade e a defesa de valores conservadores, e precisa do apoio de seus leitores para continuar. Apelamos encarecidamente ao nosso público para contribuir conosco pelo PIX: 02259742823 ou através deste link para fazer assinatura de apoio.

Na versão completa da descrição do processo de tomada de decisão da OTAN, que pode ser lida neste documento, fica claro que em algumas situações, o único consenso a que se chega é o de que não existe consenso, e nenhuma decisão é tomada.

Na atual Guerra da Ucrânia, não houve consenso na OTAN quanto aos pedidos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para que a Aliança Militar estabelecesse uma no fly zone, zona de exclusão aérea, sobre o território ucraniano para fazer frente aos ataques aéreos russos. Deste modo, a Rússia pôde continuar bombardeando a Ucrânia à vontade sem que a OTAN tomasse qualquer medida para impedir isso.

O cenário para uma hipotética agressão militar do Brasil pela OTAN
Para que a OTAN empreendesse uma hipotética agressão militar ao Brasil, como afirmam os nacionalistas-esquerdistas pró-China e pró-Rússia que exercem uma influência de peso sobre parte da direita brasileira, seria necessário em primeiro lugar que o Brasil agredisse militarmente algum país-membro da OTAN.

Pois o estatuto de fundação da aliança militar, datado de 4 de abril de 1949, diz em seu artigo 5o que uma agressão a qualquer um dos países-membros da OTAN implicará numa resposta militar conjunta de todos os demais membros da Aliança. Não temos notícia de alguma intenção do governo brasileiro de lançar bombas ou invadir o território de algum país-membro da OTAN.

Além da ausência desta pré-condição, precisaria haver um suposto consenso na aliança para empreender uma ação militar imotivada contra nosso país. Os conspiracionistas acreditam que este consenso se daria em torno dos interesses e da agenda dos globalistas ocidentais, e mostramos mais acima que é impossível aos trinta países-membros da OTAN chegar a este tipo de consenso.

Crítica Nacional é uma mídia independente que mantém-se fiel ao compromisso com a verdade e a defesa de valores conservadores, e precisa do apoio de seus leitores para continuar. Apelamos encarecidamente ao nosso público para contribuir conosco pelo PIX: 02259742823 ou através deste link para fazer assinatura de apoio.


A defesa da soberania brasileira precisa ser tratada com seriedade

As considerações que fizemos acima não ignoram as preocupações que o Brasil deve ter no que diz respeito à defesa de sua soberania e integridade territorial. Pelo contrário, entendemos que os riscos e ameaças à nossa soberania nacional e integridade territorial existem e devem ser tratados com seriedade, e não a partir de teorias conspiratórias.

A verdadeira ameaça hoje à nossa soberania é o regime de ditadura venezuelana, armado pela Rússia, de quem é um proxy, que fomenta o crime organizado na América do Sul, que mantém ligações com grupos terroristas islâmicos, e hospeda em seu território grupos terroristas e milícias como o Wagner Group, organização paramilitar “pessoal” de Vladimir Putin.

A ameaça à nossa soberania reside na presença de ONGs estrangeiras na Amazônia e a presença crescente dos chineses na controle de nossa infraestrutura básica como ocorre no setor de energia, ou a dependência da China para nossa balança comercial agrícola.

São estas questões reais e materiais que devem ser objeto de análise da parte de quem realmente se preocupa com nossa soberania. E não a criação de espantalhos narrativos, como a suposta ameaça da OTAN, para justificar opções ideológicas em favor do alinhamento de nosso país com o bloco russo-chinês.

Crítica Nacional é uma mídia independente que mantém-se fiel ao compromisso com a verdade e a defesa de valores conservadores, e precisa do apoio de seus leitores para continuar. Apelamos encarecidamente ao nosso público para contribuir conosco pelo PIX: 02259742823 ou através deste link para fazer assinatura de apoio.


Leia também:

 



DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Related articles

Um Dos Últimos Atos do Governo Bolsonaro Foi Em Favor do Ditador Nicolás Maduro da Venezuela

Governo Bolsonaro iniciou com a promessa de combater o comunismo e termina de maneira vergonhosa e desonrada com...

No Apagar das Luzes: Governo Bolsonaro Destina R$4.6 Bilhões a Organismos Internacionais

por paulo eneas O Governo Bolsonaro publicou na última sexta-feira (23/12) uma resolução destinando o montante de R$4.6 bilhões...

PEC da Gastança É Promulgada e Lula Afirma Que Já Está Governando Antes de Tomar Posse

por paulo eneas O processo político nacional desde o segundo turno das eleições segue com vitórias sucessivas da esquerda...

Renovação da Concessão da Rede Globo: O Que Deveria Ter Sido Feito e Não Foi

Presidente Bolsonaro frustra expectativas de seus apoiadores ao renovar a concessão da emissora, mas parte destes mesmos apoiadores...