por paulo eneas
Não iremos tratar neste texto dos resultados oficiais das eleições presidenciais brasileiras deste ano conforme proclamados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Iremos nos ater a uma questão que julgamos, de certa forma, tão relevante quanto o resultado do pleito: analisar e tentar compreender as razões estruturais que levam uma parcela expressiva do eleitorado brasileiro a votar na esquerda.
O tema obviamente é complexo e amplo demais, e por isso não teremos a pretensão de esgota-lo aqui, mas apenas abordar pontualmente alguns aspectos que julgamos relevantes, sem detrimento de outros que merecem também ser considerados.
Observando as eleições deste ano, percebemos que a campanha petista foi basicamente uma campanha simplista no seu conteúdo comunicado aos eleitores. Todas as falas de Lula e demais lideranças políticas petistas eram sempre simples, de fácil compreensão por parte do eleitorado menos instruído. Uma observação desatenta de superfície sugeriria que a campanha petista foi basicamente não-ideológica.
Mas indo além da superfície, iremos perceber que estas falas simples e de fácil assimilação por parte da campanha petista estavam todas ancoradas em premissas ideológicas robustas, que estão entre as mais caras para o movimento revolucionário, a saber:
- Cabe ao Estado cuidar das pessoas
- A liberdade deve ficar em segundo plano em nome de um suposto bem comum
- A culpa pela pobreza é dos ricos ou da classe média
- Cabe ao Estado promover a “justiça social” e gastar o quanto for preciso para alcançar este objetivo
- A democracia é o ambiente de consensos fabricados (pelas elites, embora não se diga) e todo discurso não alinhado com estes consensos deve ser banido ou até mesmo criminalizado
- A justiça não é a balizadora da liberdade, mas legitimadora dos consensos fabricados
- A chamada desigualdade social é um mal em si e a busca pela igualdade é um imperativo ético e moral a ser perseguido, ainda que às custas da liberdade
- Certos segmentos da sociedade merecem tratamento diferenciado e direitos exclusivos, segundo critérios étnicos e de orientação sexual.
- Armas nas mãos de civis comuns representam o mal
- Cabe ao Estado ser o indutor da economia não como garantidor de contratos, mas como agente econômico ativo
Outras premissas profundamente ideológicos também estavam presentes no “discurso simples” da campanha petista. E cada uma destas premissas ideológicas listadas acima merece por si só uma digressão a parte, e iremos fazê-la oportunamente.
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A pergunta que os conservadores devem fazer a si mesmos é a seguinte: de que maneira uma carga ideológica desta intensidade consegue conquistar o imaginário de milhões de pessoas por meio de uma linguagem oblíqua e dissimulada de campanha eleitoral de viés populista?
Em nosso entender a resposta não é muito difícil: estas premissas ideológicas já estavam, e estão, presentes no imaginário da população, sob a forma de valores morais e visões de mundo, muito antes do período eleitoral. Valores morais e visões de mundo que são resultado direto da eficiência do movimento revolucionário em sua atuação na esfera da guerra cultural.
Desta forma, colocamo-nos novamente na pedra angular de um dos principais ensinamentos do professor Olavo de Carvalho: a cultura precede a política. As instituições políticas, os atores políticos e as relações de poder nas democracias, são resultado dos valores de cultura que prevalecem na sociedade, e que definem a mentalidade predominante que irá respaldar e ditar os rumos da política.
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O movimento revolucionário no pós-guerra nunca descuidou da guerra cultural, pois assimilou prontamente as ideias centrais de Antonio Gramsci e os ensinamentos da Escola de Frankfurt.
Na Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá e também no Brasil, a esquerda preocupou-se antes, ao longo de décadas, em ocupar espaços junto aos aparelhos culturais de formação de mentalidades, para somente então aspirar posições de poder efetivas o bastante para implementar sua agenda ideológica.
No Brasil, os conservadores em particular, e a direita em geral, nunca compreenderam esta lição básica de guerra política, lição esta dada pela própria história recente da esquerda. Exceto por algumas iniciativas bem-sucedidas no importante segmento do mercado editorial, nunca houve a preocupação da direita brasileira em ocupar os espaços de formação de cultura.
Até mesmo nos núcleos familiares, optou-se pela cisão motivada por conflitos políticos, sem que houvesse na maioria das vezes a preocupação em compreender o substrato de valores de cultura e de moralidade subjacente a estes conflitos.
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A presença recente da direita, ainda que nominal, na Presidência da República e os desdobramentos desta experiência mostram a necessidade premente desta direita requalificar-se para o embate político, voltando-se para a formação. E por formação entenda-se, entre outros, a compreensão básica da natureza do poder e de seu exercício em todas as suas facetas.
Ainda que pareça um clichê, a direita precisa voltar para a base, principalmente a base mais importante: o núcleo familiar, que não pode ser palco de conflitos políticos, mas o ambiente prioritário para consolidar os fundamentos dos valores que são caros aos conservadores.
Para a direita, a família não pode ser apenas parte de uma tríade de um slogan político. Ela precisa ser a primeira barreira e linha de defesa na esfera da guerra cultural empreendida pelos revolucionários. É a única real barricada capaz de frear os ímpetos revolucionários e blindar as gerações mais novas da carga ideológica que a esquerda promove para levar adiante seu projeto de poder.
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Leia também:
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3) O Risco de Se Confundir Conservadorismo Com Erudição
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