por evandro pontes
Este ano completamos 130 anos que o grande Oscar Wilde nos propôs uma reflexão em seu magnífico The Picture of Dorian Grey, romance que retrata a vida de um libertino gerando efeitos em seu retrato e mantendo intacto o seu corpo desses tais efeitos autodestrutivos.
Leia lá, leitor. Você vai gostar.
Passados esses 130 anos, a história desabrocha no mundo: há um Doria, João qualquer (e isso não vem ao caso) e seu retrato, pintado não por um Basil Hallward e sua influência, assim, também não é moldada por nenhum lorde – três antagonistas resolvem pintar o retrato desse Doria e vários outros Brasis Livres lhe servem de claque gerando assim um quadro oposto àquele idealizado por Wilde. O de Wilde envelhecia e esmaecia no lugar do Dorian, mas o dos Antagonistas rejuvenesce enquanto o Doria esmaece a olhos vistos.
Esses Antagonistas, ao retratarem Doria, tentam deixá-lo mais belo do que ele realmente é (de fato, não é…) enquanto a sua claque lhe infunde aquela aura democrática por cima de uma roupagem à la Stasi.
Não que no retrato não apareçam coisas como, “o nosso Doria Cinzento ficha detratores”: sim, há isso no retrato dos Antagonistas. Mas o que não há, e a ausência se deve justamente pela forma como eles pintam as coisas, é a famosa frase final irônica em sentido de cobrança – sempre presente nas postagens contra Bolsonaro, sempre ausente nas do Doria Grey.
São pouquíssimas as postagens que miram em aspectos negativos e quando o fazem, jogam com aquele foco de luz e sombra, o chiaro scuro para que o leitor não se importe tanto com o Doria Cinzento, essa espécie de Mielke para o brasileiro chamar de nosso.
Mais de 90% das postagens são para elogiar ou insuflar o retrato desse Doria Grey: “Iván Duque promete visitar Doria em maio”, “A meta tucana em São Paulo”, “Doria tem agenda frenética em Davos”, “Regina tem missão de ‘pacificar’ a cultura, diz Doria”, “Políticos de SP ficam sem aumento em 2020”, “Covas ‘em plena forma’ com Doria”, “Doria: população está cansada de ‘vândalos’”, “Prefeito de Campinas de malas prontas para o PSDB”, “Mais um adversário de Doria acompanha Bolsonaro em Santos”;
“Governadores estão muito relutantes em diminuir ICMS da gasolina, diz Doria”, “Doria anuncia maior concessão rodoviária da história do Brasil”, “Doria diz que espera privatização do Porto de Santos neste ano”, “Doria volta a prometer despoluir o rio Pinheiros até 2022”, “Doria diz que São Paulo economizou quase 1 bi em 2019”, “Doria do povão”, “João Doria já está em 2022” – tudo isso em apenas 30 dias de postagens durante as férias de Janeiro, por exemplo…
Se precisássemos listar todo o trabalho de pintura desse Doria Grey feito pelos Antagonistas e pela Crusoé ao longo de 2019, o Crítica Nacional teria que adquirir um servidor novo só para armazenar os elogios e a puxação de saco.
E no caso das postagens que seriam supostamente negativas, como “A Imprensa chapa branca jamais será extinta”, a postagem se dá ao trabalho de copiar e colar uma frase extraída da Folha de São Paulo e terminar a postagem com a sentença que serve de chamada (sim, a frase “a imprensa chapa branca jamais será extinta” se repete ao final da postagem), sem que saibamos se isso é bom ou é ruim, já que postura dos Antagonistas é exatamente de uma imprensa pro-Doria, embora não saibamos quão branca anda a sua chapa.
E agora que o périplo que vinha em andamento de uma imprensa absolutamente pro-Doria se tornou Diário da Histeria em tempos de vírus chinês, temos “doriavante” uma linha de produção do projeto ignóbil de poder desse Mielke rosa-shock. O descarado aproveitamento da crise sanitária para avançar um golpe de estado contra o presidente eleito Jair Bolsonaro se tornou evidente com a resposta dada hoje em face do pronunciamento conciliatório de Bolsonaro de ontem.
Doria Grey partiu para o confronto quando Bolsonaro chamou para o diálogo, propondo união. Dória não quer soluções pois obviamente não as tem. Ele quer puramente o conflito e por isso dobrou a aposta tentando deixar claras as suas intenções de esticar essa greve geral sustentada por um coletivo cárcere privado até o mês de Agosto.
Dória investe na desgraça, Bolsonaro na cura.
E enquanto parte da direita nacional olha para os Antagonistas como veículo de ataque ostensivo ao governo Bolsonaro, acaba deixando de lado a sua faceta mais ostensivamente perversa: a de um veículo que retrata Doria over fifty shades of grey.