por paulo eneas
O debate político nacional, inclusive o debate na direita política, tem sido marcado pela ausência da abordagem das questões relevantes para o país, e está sendo pautado unicamente por temas comezinhos que alimentam diariamente a velha mídia, que distrai seu público com factoides de corredores de palácios enquanto desce um véu de obscuridade sobre os temas que realmente interessam ao presente e ao futuro da Nação, caso ainda tenhamos um.
No campo da direita, a discussão em torno da possível candidatura à reeleição do Presidente da República é feita unicamente à luz das questões partidárias envolvidas, como se elas encerrassem em si os temas relevantes. Não há qualquer preocupação em avaliar-se com frieza as ações governamentais ao longo destes três anos em cotejo com o programa de governo de viés conservador aprovado nas urnas em 2018.
Como a direita não foi capaz de organizar-se em um partido político ao longo destes três anos, toda a discussão desse campo é feita de modo aberto nas redes sociais, o que por si só já denota a ausência de uma compreensão estratégica de como devem ser tratadas as questões de poder, “cuja essência reside no segredo”, como ensina o professor Olavo de Carvalho.
Nessa discussão aberta que ocorre nas redes, importa muito mais aos seus protagonistas o feedback positivo do público em termos de engajamento do que o conteúdo substantivo daquilo que é afirmado.
Desta forma, a reflexão e a análise ficam substituídas pelo meme, pela mitada e pela lacração, sendo que o máximo de conteúdo mais elaborado que a direita consegue criar é mostrar as “incoerências da esquerda”, como se a exibição de suas incoerências fosse derrota-la.
E em meio a lacrações, mitadas, deboche dos adversários e inimigos, e a ausência completa de abordagem e discussão dos reais problemas do país, a direita acredita estar se cacifando e se legitimando ante à sociedade como alternativa de poder político da Nação.
Ignora-se por completo o fato de o governo ter cedido a inúmeras pautas da esquerda, especialmente as pautas identitárias e aquelas de apelo populista-assistencialista, como os absorventes femininos que passarão a ser distribuídos pelo Estado conforme anunciado com entusiasmo pela ministra Damares Alves.
Ignora-se totalmente o fato de o país estar comprometendo sua soberania nacional e sua capacidade de desenvolvimento econômico futuro por meio da adesão a acordos de submissão às agendas ambientalistas dos globalistas ocidentais nos fóruns internacionais, como no caso do G20 e da COP26.
Há uma indiferença espantosa diante da crescente restrição e quase extinção da liberdade de expressão, até mesmo a liberdade de expressão dos detentores de mandatos. Não se dá o devido peso ao fato de as garantias e direitos individuais básicos, como o devido processo legal, terem sido banidos.
O fato de a população, incluindo crianças, estar sendo obrigada a se submeter a uma vacinação compulsória experimental prevista em lei sancionada pelo governo, somente é abordado com a intenção de isentar o governo de qualquer responsabilidade.
Os protagonistas da direita pautam sua conduta unicamente pela defesa intransigente do governo sem nem mesmo admitir que se discutam as ações e eventuais omissões do governo. Qualquer cobrança que seja feita é rechaçada sob o argumento de que aqueles que cobram não sabem o que se passa nos bastidores do poder.
Trata-se de um argumento auto-enganoso, como se houvesse algo nos bastidores que justificasse e avalizasse o estado de inanição institucional em que o país vive. Uma inanição que levou até mesmo a mudança do sistema e do regime de governo para uma forma de semipresidencialismo, conforme reconhecido e admitido explícita e publicamente por um magistrado da suprema corte.
Este argumento auto-enganoso sugere também que o único horizonte presente e futuro a ser oferecido aos brasileiros é o de esperar o menos pior e não um futuro digno como Nação. Abriu-se mão de oferecer esperança para, em vez disso, oferecer-se a resignação. Afinal, se existe alguma coisa ruim o bastante, poderia estar pior. Melhor então agradecer a Deus pelo ruim e não reclamar, pois poderia ser pior.
Pois afirma-se que se não aceitarmos passivamente e com resignação as coisas como estão, responsabilizando sempre os outros pela situação em que o país está, então a situação irá piorar com uma hipotética volta da esquerda ao poder, como se algum dia ela tivesse saído.
A nossa pseudo-direita oferece hoje aos brasileiros unicamente a perspectiva de contentar-se com o fogo, caso contrário a frigideira está ali bem ao lado, à espreita, pronta para entrar em ação após as eleições do ano que vem. Ocorre que um país não pode viver tendo que escolher entre o fogo e a frigideira. É preciso que as pessoas de bem venham a oferecer à Nação algo mais do que escolher entre a tormenta e a tempestade. Crédito da foto: Creative Commons.
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